“Morreu Maradona. Adeus ao Rei de Nápoles”, assim escreve esta quinta-feira o jornal napolitano “Il Mattino”, num artigo onde expressa a dor entre os napolitanos pela morte daquele pequeno argentino que, na década de 80 do século XX, elevou a cidade ao primeiro plano de Itália
Na capa do “Il Mattino”, um “obrigado” no “adeus a Maradona, o rei do futebol”. No editorial, o título que resume o reconhecimento dos ao argentino: “ninguém como ele defendeu Nápoles.
Noutras peças paralelas, titula-se “dois ‘scudetos’ e sete anos de alegria pura”; “o campeão que descartou os poderosos”; “o seu nome para sempre no San Paolo”; ou “o rapaz que com a sua bola tocava a música de Mozart”.
Durante sete temporadas os “tiffosi” do Nápoles, onde hoje alinha internacional português Mário Rui, tiveram a possibilidade de testemunhar ao vivo uma das escalas da passagem pela vida terrena de um dos eleitos divinos na arte do futebol. Para muitos o maior de todos.
Oriundo do Barcelona, Maradona foi apresentado em Nápoles em julho de 1984, transferido por 13 mil milhões de liras italianas, o equivalente hoje a 6,7 milhões de euros.
Três anos depois e um após entrar no “olimpo do futebol” pela porta do mundial México86, onde conduziu a Argentina ao ceptro da FIFA, “deu” o primeiro título italiano à cidade marginilizada, jogando contra tudo e contra… a Juve, que dominava na altura o “calcio”.
Mais do que o título de campeão, ainda em 1987 “ofereceu” aos napolitanos a “dobradinha”, com o triunfo também na Taça.
Voltaria a vencer o “scudetto” em 1990, em vésperas do Mundial de 90 que se iria disputar em Itália. Já envolto em controvérsias envolvendo a máfia napolitana, foi apupado pelos estádios italianos, sobretudo quando sentenciou a eliminação da “squadra azurra” nas meias finais.
Perdeu a final, mas o destino começou a ser traçado pelos responsáveis do futebol do país que o acolhia e que se sentiu traído por este argentino arrogante de “metro e meio”. Menos de um ano após essa meia-final, em março de 1991, Maradona foi “caçado” nas malhas do doping.
Há quem diga ter sido “tramado”, mas a verdade é que Maradona fez sempre o que quis e pagou por isso.
“El Pibe” toma o lugar de “San Paolo”
Suspenso pela instâncias do futebol, viria a deixar o Nápoles de forma oficial no verão de 1992, regressando a Espanha, para representar o Sevilha.
Embora Itália o tenha “condenado”, Nápoles nunca o deixou o cair e agora, na hora da morte, o município napolitano foi rápido a reagir.
Ao bom estilo de “El Pibe” fintou as regras e, pela presidente da Comissão de Toponímia da Câmara Municipal de Nápoles, Laura Bismuto, anunciou a mudança de nome no estádio da cidade, de que é proprietário, de “San Paolo” para “Diego Armando Maradona”, algo normalmente só possível 10 anos após a morte do homenageado.
O argentino, porém, não se fez famoso a seguir regras, mas a fintá-las. Dentro e fora do campo. Nem sempre pelos melhores motivos.
Poucas semanas após celebrar 60 anos, Diego Armando Maradona morreu. Sem olhar aos muitos erros cometidos pelo argentino fora dos relvados, todos os amantes da arte do futebol o lamentam. Sem exceção.
Sobretudo em Nápoles, uma cidade que muito deve a este argentino e onde a presença de “D10S”, como é carinhosamente tratado, nunca de evaporou. Pelo contrário
Os fiéis “maradonianos”
Desde 2007, “don Diego” é cidadão honorário de Nápoles, incrustado na memória napolitana, tatuado na pele de muitos, pintado nas paredes de prédios e idolatrado num pequeno templo improvisado, onde uma multidão se juntou de forma espontânea horas depois da notícia da morte ocorrida nos arredores de Buenos Aires, na Argentina.
“Vim aqui porque morreu o meu pai. Maradona era como um pai para mim”, afirmou à Euronews um confesso admirador do argentino.
Uma argentina que interpelámos junto ao memorial por Maradona confessou-nos que, neste momento terrível”, lhe soube ver “algo belo” expresso no “amor que este povo napolitano tem por este argentino”. “Faz-me sentir mais perto de casa. Partilhamos a mesma dor. (Maradona) morreu, mas viverá para sempre”, perspetivou.
O nosso enviado especial a Nápoles testemunhou o “choque” com que a cidade recebeu “esta súbita morte” e de “forma espontânea” se concentrou no “templo improvisado há anos e não apenas para este momento”. “Este é o centro do amor de Nápoles pelo seu ídolo”, resume o jornalista Luca Palamara.
Outro “fiel” de Maradona explica-nos que este templo tem a função de “homenagear um deus”. “Depois de São Januário, está Maradona. Ele deu tanto a Nápoles e deu-nos orgulho por todo mundo com o futebol dele”, concretizou.
Este é, no entanto, ainda um momento para o luto, para o nojo, para pesar a morte de um dos eternos iluminados da ciência da bola no pé. Um dos que mais fez as bolas sorrir. Maradona.