A Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya (Replick) lançou hoje (31) sua primeira pesquisa complementar, o “Estudo multicêntrico da história natural do novo Coronavírus SARS-CoV-2 no Brasil” (Rebracovid). O primeiro centro de pesquisa da Rede a iniciar as atividades de recrutamento é a Universidade Estadual de Maringá (UEM), sob coordenação da diretora de Pós-Graduação da instituição, professora Márcia Consolaro.
A Rebracovid visa, por meio de abordagem multicêntrica e multidisciplinar, caracterizar clinicamente a infecção por SARS-CoV-2, descrever a história natural deste agravo, ou seja, descrever a progressão ininterrupta do Covid-19 em indivíduos desde o momento da exposição aos agentes causadores da doença até seu desfecho, bem como acompanhar o período de pós-infecção para avaliar possíveis sequelas da doença. No total participarão da pesquisa 5 mil indivíduos, divididos em quatro grupos.
Para Consolaro, o início do recrutamento de pacientes hospitalizados no Hospital Universitário de Maringá representa um marco na região, pois integra serviços e servidores da Saúde ligados ao SUS, com pesquisadores locais e nacionais. “Buscamos respostas e soluções para uma patologia tão desafiadora como a Covid-19. O centro de pesquisa Maringá tem muito orgulho em representar o Sul do país neste projeto desafiador, que busca dar respostas consistente a anseios da população frente a pandemia do novo coronavírus”, disse a pesquisadora.
De acordo com o coordenador geral da Replick, André Siqueira, espera-se produzir evidências sobre a história natural da doença e fornecer elementos para reduzir o impacto da Covid-19 na saúde pública e economia. “No cenário atual é urgente que lacunas do conhecimento sejam preenchidas em tempo oportuno para impactar nesta pandemia. Há uma diversidade importante de fatores relacionados à evolução da infecção, o que demonstra a necessidade de estabelecer coortes prospectivas que possam coletar informações e material biológico de forma sistemática”, explicou. A Replick é coordenada pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
Tal diversidade destaca a importância de que sejam realizados estudos multicêntricos, sendo capazes de representar os diferentes cenários em que a infecção ocorre e como as características podem impactar nos desfechos da doença. A Rebracovid coletará informações de maneira sistemática e com representatividade regional, utilizando a infraestrutura da Replick, em oito estados diferentes, abrangendo as cinco regiões geográficas do Brasil. Participam da Rebracovid os centros da Replick localizados no Rio de Janeiro, Paraná, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Ceará, São Paulo, Bahia e Pernambuco.
Além do segmento clínico, serão realizadas análises laboratoriais sofisticadas para melhor entender a resposta imune e inflamatória do corpo humano à Covid-19, bem como buscar testes que possam predizer o risco de um indivíduo evoluir para a forma grave ou não.
Participantes
Podem participar da pesquisa indivíduos acima de 18 anos, com quadro de febre e/ou sintomas respiratórios nos últimos 7 dias até data da inclusão, bem como seus contactantes domiciliares (indivíduos com que mantêm contato direto). É fundamental que o participante esteja disponível para realizar as visitas previstas no estudo, que podem ocorrer até 1 ano após ingressar no Rebracovid.
Tanto os pacientes, quanto seus contactantes domiciliares passarão por avaliação clínica e laboratorial minuciosa, incluindo a testagem para infecções por vírus respiratórios e outras condições consideradas relevantes. Aqueles com diagnóstico confirmado de Covid-19 serão acompanhados pelas equipes nos centros da Rebracovid.
Biorrepositório
O estudo também prevê a criação de um biorrepositório, que será constituído por um banco organizado de material biológico humano e suas informações associadas, coletados e armazenados para fins de pesquisa.
“O biorrepositório Rebracovid contará com variados tipos de amostras, não só do participante, como também de seus contactantes, com o diferencial de que todas as informações clínicas estarão associadas às amostras, auxiliando na interpretação dos dados”, destacou Siqueira.
A coleção será composta por amostras de swab respiratório em meio de transporte viral (naso e orofaringe), soro, sangue total, amostras de sangue coletadas em tubo paxgene, além extratos de células mononucleares do sangue periférico. As amostras serão armazenadas no biorrepositório central do estudo, na Plataforma de Medicina Translacional da Fiocruz, em Ribeirão Preto/SP.
Teste Sorológico Rápido – BioManguinhos
Considerando a variedade de kits de diagnóstico disponíveis no Brasil e a falta de análises científicas sobre a validade destes, o Rebracovid também avaliará o desempenho e aplicabilidade do teste rápido TR DPP® COVID-19 IGM/IGG, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). será comparado.
O DPP® Covid-19 será comparado à testes de resultados moleculares (RT-PCR), considerados o padrão ouro, bem como outros testes sorológicos não-rápidos. Desta forma, será possível constituir um biorrepositório de amostras, caracterizadas clinicamente, que possam ser compartilhadas para a avaliação de testes diagnósticos. “O apoio ao desenvolvimento do teste TR DPP® Covid-19 IGM/IGG – Bio-Manguinhos, poderá garantir autonomia nacional na produção futura de testes diagnósticos de qualidade”.