Consumo de gorduras saturadas cai em dez anos, mas ingestão de açúcar e sal ainda é alta

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O prato na mesa do brasileiro apresentou mudanças em dez anos que acabaram alterando o perfil de consumo de alguns nutrientes. Nesse período, a ingestão de gorduras saturadas e o consumo de fibras diminuíram. Outros hábitos na alimentação continuam bastante presentes no prato e no copo do brasileiro, como adicionar açúcar em bebidas e alimentos e colocar sal em preparações prontas. As informações são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, publicada hoje (21) pelo IBGE.

Para o gerente da pesquisa, André Martins, esses dados dão um panorama a respeito da dieta brasileira. “Nossa alimentação ainda é baseada no feijão, arroz e carne, e isso é positivo, mas temos que melhorar o consumo de frutas e legumes e diminuir o açúcar e o sódio em excesso”, analisa o pesquisador.

O consumo de ácidos graxos saturados (gordura saturada) diminuiu no grupo dos homens e mulheres e nas três faixas etárias pesquisadas: adolescentes, adultos e idosos. A faixa de mulheres idosas apresentou a maior queda: a contribuição na alimentação passou de 10,2% para 9,3%. De acordo com a médica e consultora da pesquisa, Rosely Sichieri, essa redução é positiva e pode ser atribuída à redução no consumo de carne bovina apresentada no Brasil entre 2008 e 2018.

O conteúdo em fibra na dieta também caiu, em dez anos, em todas as faixas etárias e ambos os sexos, mas atingiu, principalmente, as mulheres com 60 anos ou mais, passando de 20,5g em 2008 para 15,6g em 2018 nessa faixa. Para a consultora, essa queda indica deterioração da qualidade da alimentação, e corresponde à diminuição do consumo de feijão, cuja frequência no prato caiu de 72,8% para 60% no período. “É um dos alimentos da dieta brasileira que proporciona grande parte das fibras alimentares”, explica Sichieri.

Mas a alta frequência de consumo de açúcar e sal ainda preocupa os especialistas. Para adoçar bebidas e comidas, 85,4% da população afirmou colocar açúcar. A frequência diminuiu (era de 90,8% em 2008), mas ainda é considerado alta. O maior consumo ficou entre os adolescentes, chegando a 93% em ambos os sexos, e o menor entre as mulheres com 60 anos ou mais (69,2%). Nesses dez anos, aumentou de 1,6% para 6,1% o percentual da população que afirma não adicionar nem açúcar nem adoçante. Já o uso de edulcorantes artificiais aumentou de 7,6% para 8,5%.

A contribuição percentual das proteínas, carboidratos e gorduras para a ingestão total de energia também se manteve estável, variando entre 53% e 57% para carboidratos, 28% e 30% para gorduras e 17% e 19% para proteínas, em ambos os gêneros.

O sal era adicionado em comidas prontas por 13,5% da população e era mais frequente em homens adultos (16,5%). O sódio foi ingerido acima do limite por 53,5% da população, índice mais elevado em homens adultos (74,2%) e menor em mulheres idosas (25,8%). “A pesquisa mostra que o brasileiro continua com níveis de consumo de sódio acima do limite tolerável, levando em considerações as recomendações médicas. É um ponto que temos que prestar atenção”, aponta Martins.

Mulheres lideram suplementação e dietas para emagrecer

A pesquisa também traz informações a respeito de suplementação e dietas restritivas para emagrecimento ou para tratamento de doenças e distúrbios. Segundo a POF, as dietas para emagrecimento foram mais frequentes nas mulheres adultas (9,4%), enquanto as restrições alimentares relacionadas às doenças crônicas ou distúrbios metabólicos como hipertensão e diabetes foram referidas por 26,8% das mulheres idosas e 19,1 % dos homens idosos.

Segundo a POF, 19,2% das pessoas informaram o uso de pelo menos um suplemento alimentar no período de 30 dias anteriores à pesquisa. Esse índice sobe para 41% entre as mulheres idosas, que informaram em maior proporção o uso de suplementos com cálcio (21,3%) e com vitaminas (19,5%).

Suplementos à base de proteínas e outros suplementos para atletas foram referidos por 1,7% da população geral, enquanto 13,9% informaram estar em restrição alimentar.

O elevado consumo de açúcar e sal ainda é motivo de preocupação para os especialistas
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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