As Nações Unidas afirmam que o papel das cidades é fundamental na luta do mundo contra a Covid-19.
Em seu mais recente documento político sobre temas e regiões neste momento de pandemia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que as cidades têm nove em cada 10 casos da doença.
Pressão
Guterres acredita que as áreas urbanas são o “marco zero” da pandemia da Covid-19 arcando o pesado fardo da crise.
O chefe da ONU ressaltou desafios como sistemas de saúde sob pressão, serviços inadequados de água e saneamento, entre outros. Para ele, os mais pobres sofrem mais, uma vez que a pandemia expõe desigualdades “profundamente enraizadas”.
Apesar dessas barreiras, o secretário-geral elogiou o que chamou de “melhor do espírito humano”, ao citar a solidariedade vista nessas mesmas cidades que aplaudem os trabalhadores essenciais e de saúde, e os comércios locais que doam produtos para aliviar o sofrimento alheio.
Guterres diz que os centros urbanos são locais de comunidade, inovação e engenho humanos.
Favelas
No “Documento de Políticas sobre a Covid-19 no Mundo Urbano”, o secretário-geral faz três recomendações incluindo o enfrentamento das desigualdades socioeconômicas e o déficit do desenvolvimento a longo prazo incluindo água, saneamento e moradia adequados. Atualmente, 25% da população mundial vivem em favelas.
Em segundo lugar: ele propõe fortalecer governos locais e nacionais em sua cooperação, e por último uma recuperação mais verde, inclusiva e sustentável após a crise.
António Guterres acredita que este é o momento de repensar e remodelar as cidades em todo o mundo para que elas possam enfrentar melhor o futuro e seus desafios.
Leia a íntegra da mensagem do secretário-geral das Nações Unidas:LANÇAMENTO DO DOCUMENTO POLÍTICO
“A COVID-19 E O MUNDO URBANO”
28 de julho de 2020
“As áreas urbanas são o “marco zero” da pandemia da Covid-19 com 90% dos casos notificados.
As cidades estão a arcar com o fardo da crise – muitas com sistemas de saúde sob pressão, serviços inadequados de água e saneamento e outros desafios.
É o caso, especialmente, de áreas mais pobres, onde a pandemia expôs desigualdades profundamente enraizadas.
Mas as cidades são também lugares de solidariedade e resiliência extraordinárias.
Estranhos que se ajudam uns aos outros, ruas aplaudindo trabalhadores essenciais, comércios locais doando produtos que salvam vidas.
Temos visto o melhor do espírito humano nessas ações.
Ao respondermos à pandemia e ao trabalharmos para a recuperação, olhamos para as nossas cidades como centros de comunidade, de inovação e engenho humanos.
Hoje, temos a oportunidade de refletir e de redefinir como vivemos, interagimos e reconstruímos as nossas cidades.
Por isso, estamos a lançar o “Documento de Políticas sobre a Covid-19 no Mundo Urbano” com três recomendações principais.
Primeiro, precisamos garantir que todas as fases da resposta à pandemia enfrentem as desigualdades e os déficits de desenvolvimento a longo prazo e salvaguardem a coesão social.
Devemos dar prioridade aos mais vulneráveis nas nossas cidades, incluindo a garantia de um abrigo seguro para todos e de habitações de emergência para quem não tem casa.
O acesso à água e ao saneamento também é vital.
O estado inadequado dos serviços públicos em muitas cidades requer atenção urgente, particularmente em assentamentos informais.
Quase um quarto da população urbana do mundo vive em favelas.
Os governos locais já estão a tomar medidas – desde a proibição de despejos durante a crise até à instalação de novas estações de água limpa nas áreas mais vulneráveis
Segundo, devemos fortalecer as capacidades dos governos locais.
Isso requer uma ação decisiva – e uma cooperação mais profunda entre as autoridades locais e nacionais.
Pacotes de estímulo e outras formas de assistência devem apoiar respostas personalizadas e aumentar a capacidade do governo local.
Terceiro, devemos ambicionar uma recuperação económica verde, resiliente e inclusiva.
Muitas cidades criaram novas ciclovias e zonas para pedestres, recuperando espaços públicos e melhorando a mobilidade, a segurança e a qualidade do ar.
Ao focarem-se numa alta transformação ecológica e na criação de empregos, os pacotes de estímulo podem direcionar o crescimento para um caminho resiliente e com baixo carbono e fazer avançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Devemos agir com a mesma urgência e resolução para transformar as cidades e enfrentar as crises climáticas e de poluição.
Agora é hora de repensar e remodelar o mundo urbano.
Agora é o momento de adaptar à realidade desta e de futuras pandemias.
E agora é a nossa oportunidade de recuperar melhor, construindo cidades mais resilientes, inclusivas e sustentáveis.
Muito obrigado.”