A recuperação dos reservatórios das hidrelétricas ao longo do período úmido, que se encerra agora em abril, garantiu um conforto para a geração elétrica do país não visto há dez anos, indicando custos menores para os consumidores, afirmou hoje Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Em coletiva de imprensa, ele afirmou que, após a pior crise hídrica em 90 anos em 2021, o país viu chuvas “como não se via há muito tempo” no período úmido, entre novembro do ano passado e abril deste ano.
Isso fez com que o armazenamento dos reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste, a “caixa d’água” do país, atingisse em abril o melhor nível desde 2012. A geração hidrelétrica responde por pouco mais de 60% do total no Brasil.
A expectativa do ONS é de que a capacidade dos reservatórios do SIN (Sistema Interligado Nacional) possa chegar em novembro, no fim do período seco, com nível mínimo de 40% e máximo de 60%.
Esse cenário deve permitir que o país utilize apenas geração termelétrica inflexível — isto é, de usinas que quase nunca são desligadas —, dispensando o chamado “despacho fora da ordem de mérito”, que traz custos adicionais aos consumidores.
A estimativa é de que o país acione entre 4 mil MW e 6 mil MW de termelétricas em 2022, ante 20 mil MW no ano passado. Com isso, a Agência Nacional de Energia Elétrica deve manter acionada a bandeira tarifária verde até o fim do ano, avaliou Ciocchi, confirmando fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) na semana passada.
Impacto da guerra
Sobre a crise no mercado de combustíveis devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, o diretor-geral do ONS disse não enxergar qualquer risco ao fornecimento de gás natural e diesel para termelétricas.
“Com o despacho térmico (menor) que prevemos para este ano, e com a sinalização até o momento de que não teremos problema de abastecimento, podemos ficar tranquilos… Se o mesmo conflito tivesse acontecido ano passado, seria complicado”, disse.
A partir de maio, o operador deverá contar com uma oferta adicional de energia de termelétricas contratadas de forma emergencial no ano passado, quando a crise hídrica ameaçava interromper o atendimento de energia aos consumidores.
Segundo Ciocchi, embora venha recebendo críticas pelos custos adicionais gerados aos consumidores, a contratação emergencial de térmicas foi necessária e será mantida.
“Agora não precisamos, mas quando tomamos a decisão existia uma incerteza muito grande… o setor elétrico prima pelos contratos… o nosso desejo é que esses empreendedores consigam entregar essa energia”.
Ainda segundo ele, os custos associados a essas térmicas não são significativos no cômputo global. “Esses custos estão assimilados dentro do arcabouço vigente, normal, da tarifa de energia elétrica.”
Fonte: Reuters