De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade de vida é a percepção que um indivíduo tem sobre a posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Foi pensando nisso que Priscila Brasil e Wellen Rezende criaram o ‘Lesbike’, primeiro pedal sapatão de Maringá. O grupo nasceu no Dia Nacional da Visibilidade Lésbica em 29 de agosto do ano passado. Hoje, cerca de 60 mulheres participam do projeto.
A consultora empresarial Wellen Rezende se mudou de Belo Horizonte para Maringá há pouco tempo. Segundo ela, tudo ocorreu de modo rápido e fluído. “Queria um lugar sem tanta correria em que eu pudesse respirar, e na minha pesquisa apareceu Maringá”, afirma.
Ao morar na nova cidade, Wellen ressalta que surgiu a necessidade de compartilhar vivências com outras mulheres lésbicas. “Ao conhecer a Pri idealizamos o projeto Lesbike juntas. Ela foi a primeira a comprar uma bicicleta. Resolvi comprar e passamos a procurar grupos dos quais pudéssemos participar, mas não encontrávamos nada que atendesse nossas necessidades. Então criamos o nosso”, pontua.
O projeto hoje conta com 60 mulheres, as rotas oficiais são escolhidas com o objetivo de explorar todas as ciclovias da cidade. “Já passamos por todas as ciclovias de Maringá. O primeiro dia do projeto foi o que mais me marcou, porque não imaginávamos que ia dar certo logo no início. Foi uma surpresa a quantidade de mulheres que foram e tivemos a oportunidade de conversar com várias. Nesse dia sentimos como é real o sentimento de ser invisível na sociedade, mas ao mesmo tempo expostas o tempo inteiro a ameaças, assédios, violências”, afirma a consultora Wellen Rezende.
Em cinco meses de projeto, o Lesbike, também tem promovido outras atividades, como encontros e rodas de conversa. “A gente entendeu que essa proposta de criar um grupo lésbico está se manifestando como um ambiente de identificação e de reconhecimento, em que muitas buscam pertencimento e representatividade”, afirma.
Wellen conta que no começo pensaram em até desistir, pois as pessoas foram desaparecendo dos pedais. “Achamos que não estávamos conseguindo construir nada com o grupo, mas depois fomos percebendo como a existência do grupo tem dado senso de pertencimento a muitas lésbicas e como tem se formado um espaço de trocas, identificação”, conta.
Com a identificação e trocas de ideias, elas entenderam que o foco do projeto ultrapassava o grupo de pedal. O lesbike tem a função de representatividade muito forte. “Isso nos encorajou a continuar e agora temos visto que estamos inspirando outras a criarem projetos semelhantes, em outras partes do Brasil. Desistir deixou de ser opção”, ressalta Wellen.
Mesmo com o projeto dando certo, elas afirmaram que sofreram preconceito. “A sociedade não leva as lésbicas a sério, sequer dentro da própria comunidade LGBTQIA+ encontramos espaço. Temos de lidar com lesbofobia, mas a misoginia é sempre maior”, conta.
O grupo promove pedais semanalmente, percorrendo principalmente as ciclovias de Maringá. Além disso, são realizados encontros e rodas de conversa. Para participar do grupo é preciso ser maior de 18 anos. Apesar de ser protagonizado por lésbicas, o pedal é aberto a qualquer mulher que queira praticar o esporte e fazer novas amizades.
“Temos um formulário de inscrição, disponibilizamos o link na bio da página do nosso Instagram. Depois de responder o formulário, nós selecionamos e adicionamos no grupo”, frisa a consultora Wellen Rezende.
Para mais informações e para acompanhar as atividades do grupo, basta clicar no Instagram do projeto ‘Lesbike’.