A geração atual de jovens tem caminhado para mudanças significativas na forma de lidar com bens materiais e com o sucesso. É a transformação da sociedade com foco apenas no que o capitalismo tem a oferecer de uma sociedade que busca também um propósito. De acordo com o idealizador do Congresso Internacional de Felicidade e professor da Universidade Positivo, Gustavo Arns, os jovens da atualidade procuram a auto realização pessoal e profissional. “Essa busca pode, inclusive, ser apontada como a raiz dos altos índices de depressão, ansiedade, stress, doenças mentais e emocionais que estamos vendo e vivendo”, explica Arns.
Para o professor, é natural que isso comece a mudar, com a próxima geração de jovens buscando algo diferente. “A mudança deve acontecer no sentido de que os jovens comecem a buscar a mesma satisfação que a geração atual, mas de outra forma. Serão pessoas querendo deixar uma marca positiva no mundo, um legado positivo, querendo algo que seja bom não apenas para si mas também para o outro”, salienta Arns. “Estamos nos movendo da sociedade do sucesso para a sociedade do significado. As pessoas querem encontrar sentido naquilo que fazem. Sendo esse o elemento de satisfação”, acrescenta.
Segundo educadores, isso deve trazer reflexos na escola e na forma de educar esses jovens. A Educação Financeira, por exemplo, prevista no Novo Ensino Médio, deve ser inserida no currículo levando em conta alguns fatores importantes. Um deles é ter em mente que não se pode querer falar aos jovens sobre o tema utilizando o mesmo discurso voltado para os mais velhos ou às gerações anteriores. “Nenhum educador vai ganhar a atenção de um estudante usando palavras como patrimônio, aposentadoria ou metas financeiras. A mensagem que vai chegar ao coração desse aluno deve ser carregada de conexão emocional e traduzida para o cotidiano dele”, argumenta o consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional, Fernando Venegas Vargas.
Segundo ele, é preciso enxergar quem é o jovem de hoje e o que o move. “A geração atual tem sua base nos ídolos do individualismo. São jovens que buscam estabelecer metas em função do exemplo de influenciadores digitais. O que a escola precisa fazer é adotar um olhar que a leve a se comunicar de forma eficiente com o aluno, a ponto de conseguir guiá-lo em sua jornada de formação e transformação”, destaca.
O primeiro passo é começar o mais cedo possível, ainda na Educação Infantil. O educador destaca que, desde cedo, é preciso desenvolver essa consciência financeira a partir de exemplos e estímulos, sendo um trabalho que deve ser realizado em conjunto entre família e escola. “Orientações sobre a importância de poupar, conversas que explicam a importância do trabalho e da remuneração, os cuidados para se evitar o desperdício de água ou energia elétrica que impactam na conta mensal são exemplos de práticas que pais e professores podem adotar na hora de estimular a consciência financeira das crianças”, reforça Vargas.
Dessa forma, à medida que as crianças crescem mais atentas a tudo isso, a escola terá jovens mais propensos a considerar valores fundamentais, como dar valor ao que se tem, estímulo ao consumo consciente e à prática do desapego – que minimiza o exagero do ter e acumular, além do autocontrole em relação ao que se quer e o que realmente precisa. Vargas ainda ressalta um pilar muito importante: o planejamento. “É ele que vai tornar um sonho possível. Precisamos fazer o jovem refletir sobre o que ele precisa ou deseja e relacionar isso com o uso do dinheiro que ele tem ou pode vir a ter. É isso que mostra para os jovens que eles são capazes de realizar sonhos”, garante.
Essas ações aproximam a educação financeira do universo dos jovens de hoje e das próximas gerações e fornecem elementos que os ajudam a refletir sobre os seus desejos e a importância de construir planejamentos para realizá-los. Neste caso, é preciso identificar quais os anseios e buscas que motivam a juventude atual. Fernando Vargas defende que o trabalho da escola, fundamentalmente, é tirar o foco do ‘ter dinheiro a qualquer custo’ e focar no propósito de vida. “Para que o jovem construa o seu projeto de vida, ele precisa descobrir qual é o seu propósito na vida. Essa busca deve ser orientada pela escola, que deve ajudá-lo a explorar o erro, a se comunicar com o meio, a buscar conhecimento e a ser produtivo. Assim sendo, é muito importante a promoção da autoestima e da autonomia, pois, sem as duas, o estudante não realizará nada. Essa é a educação financeira mais ampla, eficiente e definitiva que pode haver”, finaliza Vargas.