A música chegou à Simone ainda muito cedo. Seus pais, Otto Gentil de Oliveira, um cantador de óperas amador e Letícia Bittencourt de Oliveira, que tocava piano e violão, costumavam ouvir em casa cantores brasileiros como Ângela Maria, Maysa, Cauby Peixoto, Nora Ney. Moravam em Salvador, Bahia, quando nasce a sétima filha do casal, Simone Bittencourt de Oliveira aos sete minutos do dia 25 de dezembro de 1949, à Rua Castro Neves, no bairro de Brotas.
Ainda menina, Simone era incentivada pela mãe a cantar para as visitas, a tocar certas canções no violão, mas nesta época, não tinha ainda a dimensão que iria se tornar a cantora que conquistaria os corações de enorme público, tanto no Brasil como fora do país.
Simone havia feito Faculdade de Educação Física em Santos, para onde havia se mudado com a família em 1966 e vinha se dedicando à carreira de jogadora de basquete, em clubes do Estado de São Paulo e a de professora de Educação Física, quando, de repente, sua vida mudou inteiramente. Sua professora de violão, Elodi Barontini, a levou a conhecer Moacir Machado, então gerente de marketing da gravadora Odeon, das maiores do Brasil, que lhe chamou a fazer um teste. A sua voz cantando Maior que o meu amor (Renato Barros), do repertório de Roberto Carlos foi arrebatadora e um ano depois, depois de contrato firmado com a gravadora, oficialmente no dia 20 de março de 1973, seu álbum Simone é apresentado para a imprensa de jornal, rádio e TV reunidos no Hotel Hilton de São Paulo.
Começa assim a carreira de uma das mais importantes cantoras do país que logo parte para shows na França, Alemanha, Canadá e Estados Unidos.
“Uma grande cantora, com sorriso de madonna, felina até a ponta dos seus dedos, uma frágil sensualidade transpirando em cada uma das suas músicas”, escreveu o crítico André Drossart, do jornal Le Soir, depois de ouvi-la em show na Bélgica.
Na gravadora Odeon conhece Milton Nascimento que a acolhe em seus projetos e com quem faz parceria em 1975 no álbum Gota D’água, produzido por Hermínio Bello de Carvalho.
Seu timbre forte na voz, seu tamanho, “um metro e oitenta redondo”, como ela diz, sua performance no palco, conquistava plateias. Toquinho, ao vê-la em uma apresentação na TV, se impressiona com a voz da cantora e a convida para uma turnê que percorre o Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e México.
Por indicação de Toquinho e Milton Nascimento, Simone é convidada a gravar O Que Será (Chico Buarque) na trilha do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. Sucesso de bilheteria, o filme espalha a voz de Simone por todo o Brasil e, em 1977, a leva a realizar um sonho: subir ao palco pela primeira vez ao lado dos ídolos Milton Nascimento e Chico Buarque, no Ginásio Ibirapuera em São Paulo, um dos momentos mais emocionantes na carreira da artista.
Nestas alturas, sua relação com Milton Nascimento era de tamanha intimidade, que a cantora pediu que lhe fizesse uma música. Ele, com seu parceiro Ronaldo Bastos, compõem Cigarra que se transforma em seu apelido e num ícone de sua história como cantora.
Porque você pediu uma canção para cantarComo a cigarra arrebenta de tanta luzE enche de som o ar (…)
O álbum com este título é lançado em 1978.
O público não resistia às suas interpretações e quando Ivan Lins lhe deu sua composição em parceria com Vitor Martins, Começar de Novo, o sucesso foi estrondoso. Gravado no álbum Pedaços, produzido por Renato Corrêa, rendeu à intérprete o primeiro Disco de Ouro de sua carreira.
Ainda nos anos 70, Simone emplaca a primeira canção na trilha sonora de uma telenovela. Jura Secreta (Sueli Costa/Abel Silva) é incluída em O Profeta, de Ivani Ribeiro, em 1977, na TV Tupi. A partir de então, a voz de Simone se torna marca da teledramaturgia brasileira: de 1979 a 2014, a cantora emplacou nada menos que 54 canções em trilhas da TV Tupi, TV Globo, Manchete, Bandeirantes, SBT e SIC Portugal.ANOS 80
A década de ouro e platina
Os anos 80 se iniciam para a cantora com a exibição do especial Simone Bittencourt de Oliveira, o primeiro da série Grandes Nomes da TV Globo, dirigido por Daniel Filho, e se encerram com uma coleção de prêmios: um Disco de Ouro, sete Discos de Platina, um Disco de Platina Duplo e um Disco de Prata pela CBS Portugal.
Mas é em 1982 que a cantora se consagra: durante o show Canta Brasil, que reúne diversos artistas no Estádio do Morumbi, em São Paulo, Simone, com lágrimas nos olhos e a voz embargada, canta Para Não Dizer Que Não Falei de Flores/Caminhando (Geraldo Vandré) e levanta um emocionado coro de 90 mil pessoas em uma apoteose que viria a ser transmitida pela TV Globo dias depois, entrando para a memória dos brasileiros. No mesmo ano, direto da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, acompanhada por uma multidão de 60 mil pessoas, Simone realiza uma nova façanha: a primeira transmissão ao vivo de um show na história da televisão brasileira, exibido pela TV Globo.
É também na década de 80 que a cantora cria fortes laços com fãs na América Latina. Em 1984, em apresentações em Buenos Aires, Argentina, com enorme sucesso de público, Simone inclui no repertório gravações em espanhol como Alfonsina y El Mar (Félix Luna/ Ariel Ramirez) e Mi Buenos Aires Querido (Carlos Gardel/A. Le Pera). Um dos shows é gravado e exibido pelas emissoras ATC e Canal 7 em toda Argentina. A música Iolanda, com participação de Chico Buarque, é lançada em compacto simples na Espanha com uma versão em espanhol de Pablo Milanês. Ao longo dos anos 90, Simone ainda lança mais cinco álbuns em espanhol.
Para fechar a premiada década, a cantora coleciona parceria memoráveis em sua carreira: grava com o tenor Plácido Domingo a música Apaixonou – versão de Ronaldo Bastos para Till I Loved You, de Maury Yeston; sobe ao palco com Cazuza, no show Cazuza – Uma Prova de Amor, gravado no Rio de Janeiro e exibido pela TV Globo, no qual os dois cantam juntos Codinome Beija-Flor; com o G.R.E.S. Tradição, puxa o samba enredo Rio, Samba, Amor e Tradição (João Nogueira / Paulo César Pinheiro) ao lado de Candanga, na Marquês de Sapucaí no carnaval carioca; e grava em Nova York com o maestro Tom Jobim as faixas Lígia e Luíza.ANOS 90
A artista ganha o mundo e o disco de diamante
“Simone é demais, eu simplesmente a adoro. Ela vai fundo, penetra na alma”, declarou o produtor Quincy Jones, quando em 1991, Simone apresenta Começar de Novo acompanhada pela Quincy Jones and Big Band.
E teve a sua participação no Montreux Jazz Festival durante dois anos, apresentação na Espanha, participação em shows de projeto social Se essa rua fosse minha, e Ação da cidadania contra a fome idealizados por Herbert de Souza, o Betinho, e sua apresentação no Expo’92, por duas noites, no Auditório Plaza de América, em Sevilla, Espanha.
Em 1995, assina contrato com a gravadora Polygram e grava o álbum 25 de dezembro, idealizado e produzido por Simone e Marcos Maynard, somente com canções de Natal. Com este disco, Simone atinge a marca de um milhão de cópias vendidas em apenas 15 dias, recebendo um Disco de Diamante.
Nos anos seguintes, foram muitos shows, no Brasil e em outros países, gravações.40 ANOS
de carreira
Em 2013, Simone completando 40 anos de carreira, se sentia realizada. Mais de 35 álbuns, participação em shows nacionais e internacionais.
“É um caminho percorrido com muita felicidade. Eu tenho amor pelo que eu faço, eu vibro, porque eu acho que é uma arte que Deus dá pra gente e o cantor tem de agradecer a Deus todos os dias porque é muito bom!”.
E para celebrar, lança o álbum É Melhor Ser, pela Biscoito Fino, que se transforma em show, dirigido pela atriz Christiane Torloni, seguindo Brasil a fora. Um repertório feminino, em homenagem às compositoras que marcaram sua trajetória, inclui uma parceria sua com Fernanda Montenegro. O trecho extraído de um bilhete escrito pela atriz em 1984 é musicado pela cantora e abre e fecha o disco: “Uma pessoa é o que a sua voz é. No jogo dramático e no canto, o artista também é o que são, a sua voz e o seu canto”.
É melhor ser, foi apresentado em várias cidades brasileiras e em 2017, Simone faz uma turnê por Portugal, ao lado de Zélia Duncan, passando por Lisboa, Estoril e Porto.
E quem canta não consegue parar. Em 2018, Simone convida Ivan Lins para criarem juntos o show Simone encontra Ivan Lins. Show com repertório exclusivo de Ivan Lins e seus parceiros, com direção de Zélia Duncan. Esse dueto percorreu as principais cidades do país, passando, em alguns casos mais de uma vez, por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santos, Maceió, Recife e Salvador.
A continuação da turnê em 2019, passa em fevereiro por Portugal (Lisboa, Estoril e Porto) e ainda por Curitiba, Porto Alegre e Santo André.
Ainda neste ano, fez uma série de aparições em programas para a TV, entre eles o O Som do Vinil, edição especial de Mulheres do Canal Brasil, Domingão do Faustão, edição especial de fim de ano para a Rede Globo. E grava a faixa, Eu sou mulher, eu sou feliz, para o disco homônimo de Zélia Duncan e Ana Costa.
Em 2019, Simone faz 70 anos com legado na MPB que a redime de alguns discos sem emoções reais.