O ensino remoto durante boa parte do ano letivo de 2020 se mostrou um desafio para toda a rede estadual de ensino, que precisou se adaptar para manter uma rotina de aprendizado mais próxima do possível do que seria sem o distanciamento social. Uma das modalidades da rede teve um desafio ainda maior: os colégios agrícolas.
Além de toda a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a qual todas as escolas precisam cumprir, os agrícolas possuem uma base técnica correspondente aos cursos profissionais que oferecem aos alunos. Ou seja, tem carga maior que a regular – funcionam em período integral com uma média de 10 aulas/dia – e precisam criar conteúdos específicos, como as disciplinas do Curso Técnico em Agropecuária (integrado ao Ensino Médio).
Carro-chefe na maioria desses colégios, o curso tem disciplinas como produção animal, produção vegetal, zootecnia, fundamentos de agroecologia, horticultura, agroindústria, administração e extensão rural, infraestrutura rural e solos.
“No início deu muito trabalho, precisamos criar do zero. Fomos nos adaptando e já sabemos o que será bem aproveitado depois”, explica a diretora auxiliar pedagógica do CEEP (Centro Estadual de Educação Profissional) Assis Brasil, de Clevelândia, Maristela Ferreira da Rocha.
Com o ensino à distância, Maristela explica que os estudantes acabam recebendo mais a parte teórica, além de vídeos exemplificando a prática. “A maior dificuldade é a ausência da parte prática. Alunos filhos de agricultores vivenciam melhor isso na propriedade da família, mas outros não, têm mais dificuldade de visualizar”, diz.
Situado no Sudoeste do Estado, entre Palmas e Pato Branco e na divisa com Santa Catarina, o CEEP Assis Brasil atende ao todo 325 alunos de 45 municípios paranaenses e catarinenses, além de um do Mato Grosso – 90 são da própria Clevelândia.
Do total, 202 estudavam na pré-pandemia no regime de internato, dormindo em alojamentos anexos ao colégio. Então, a maioria também teve essa mudança significativa na rotina, ao voltar para casa.
AULA PARANÁ – Segundo a diretora auxiliar pedagógica, atualmente quase 80% dos alunos seguem a rotina de estudos pelo Aula Paraná. Outros 68 pegam material impresso quinzenalmente e apenas um não estava realizando as atividades, além de outros dois que por opção da família não quiseram o ensino remoto. “Estamos em contato direto, temos grupos de pais por turma no WhatsApp. Qualquer ausência de participação a pedagoga já liga e vê o que está acontecendo”, comenta.
NOROESTE – Esse cuidado também existe no Colégio Agrícola Estadual de Umuarama, no Noroeste, único dos 19 colégios agrícolas do Estado que não possui o internato. Por dividir a Fazenda Agrotécnica Federal com outras instituições como a Universidade Estadual de Maringá (UEM), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), não há espaço para o alojamento.
Com 101 alunos, a escola atende 20 municípios da região e também jovens de estados como Mato Grosso do Sul e Minas Gerais em regime de semi-internato, com alunos chegando da própria Umuarama e de outros municípios de ônibus às 7h30 e saindo às 17h30, fato que mudou com a pandemia.
“Entramos em contato com cada família e fizemos a orientação de como baixar e usar aplicativo (Aula Paraná). Quem não tinha aparelho compatível correu atrás e em pouco tempo atingimos a meta de 100% de adesão no Google Classroom”, explica a diretora geral Danila Zago.
Por lá, a solução para seguir o ensino integral com as bases comum e técnica foi manter a grade da mesma maneira do presencial. “Cada professor cumpre seu horário, entra na sala virtual e fica 50 minutos disponível, fazendo a interação, instigando os alunos a perguntarem e usando o Meet, que ajuda muito”, explica. O aluno que não confirma presença, por exemplo, é cobrado pela pedagoga, que acompanha aula por aula e faz a busca ativa.
Foi da escola agrícola a melhor nota da cidade de Umuarama nas duas últimas edições do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2017 e 2019, no Ensino Médio.